Em um futuro não muito
distante penso em uma passado muito presente: Os seres humanos se tornam cada
vez mais frágeis em seus antiquados corpos de carne, osso e dor, e cada vez
mais assustados com suas gigantescas cidades de asfalto, metal e fúria. A
velocidade das vias expressas oprime o pensamento, não há mais tempo para
elucubrar, não há mais tempo para gozar se não com hora marcada. Quem abusar ou
se desviar é vigiado e punido. Os corpos tem código de barra, controle remoto e
entrada USB. As identidades são invenções do Instagram, ninguém mais pode ser
infeliz agora, se não foi postado não aconteceu. As telas exigem nossa atenção
e devoram nosso consciência do agora, as luzes cegam, as projeções confundem,
os comprimidos de soma anestesiam sem necessariamente aplacar a dor das almas
em ameaça de extinção. As máquinas gritam e as fábricas produzem
incessantemente para um futuro de fartura e calmaria que nunca chega. O
trabalho nos rouba e o Tempo agora tem um soberano, um Big Brother de visão panóptica, eleito por
uma maioria muda que forma filas e aguarda o abismo enquanto devora os detritos
e escombros de um passado sem data, deixado por ancestrais cínicos e niilistas,
que maquinaram maquiavélicos o suicídio coletivo do planeta. Vestimos armaduras
automobilísticas e aceleramos queimando petróleo para não sermos alcançados, erguemos monumentos falocêntricos para
celebrar nossa impotência auto imposta e rezamos para que o deus Google diga
nosso destino. Embaralhamos nossas memórias para esquecer e fingir
neutralidade. Nos conectamos ao Todo para que esse seja Nada. Não existe mais o
fora da Matrix. Reproduzimos o mesmo para que a diferença seja apenas um
slogan. O vingador do futuro foi enforcado em uma fábrica no
berço do capitalismo em meio a discursos de progresso infinito. Ele voltou e foi crucificado. Voltou de novo e foi
baleado. Agora vive como indigente em uma região desolada pelo estouro de uma
barragem. E assim aguardamos sentados no sofá o apocalipse e as vezes
trocamos de canal para não nos entediamos com um fim tão óbvio. Enquanto isso
as baratas observam o desfecho do Antropoceno ansiosas por sua era de ouro na Terra.
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