As
duas estavam sentadas em um restaurante quase vazio, da janela uma paisagem bucólica
de onde se via o lago do parque em um dia nublado. Poucas palavras foram
trocadas, as duas pareciam gostar da companhia silenciosa uma da outra. Os olhares
e os pequenos gestos das mãos falavam mais... Havia ali histórias antigas, afetos dispersos,memórias partilhadas,desconfiança, amor e dúvidas. Sobre a mesa, canecas de chopp, uma bituca de cigarro
quase apagada repousando no cinzeiro. De repente, em um instante de banal estranheza,
Nadja se levante. E como se tivesse sido convidada se aproxima de Helena e lentamente se curva na sua frente abaixando a cabeça em direção ao prato de
sopa. Ela vira os olhos carregados de sensualidade e erotismo para mim como
quem me intima a partilhar do momento. O observador passa a fazer parte do observado. E em um ato desprovido de razão aparente e encadeamento
lógico, cospe delicadamente na sopa de Helena, como se isso fosse um ato primitivo e exótico de partilha e intimidade. Asco e desejo! A cena se congela com a pequena
linha de saliva transparente escorrendo viscosa dos lábios vivazes de Nadja e
pousando sobre a superfície do prato, dissolvendo-se no liquido amarelado. Helena
acompanha tudo inebriada, estática. O insólito se revela enquanto deslumbramento. Nada mais acontece naquele lugar, nada se meche depois do acontecido,
parte visto parte incógnito. Tomar o banal como objeto de apreciação e buscar o que escapa o que foge da calmaria do normal,para poder cultuar o tédio como revelação.
domingo, 21 de maio de 2017
sexta-feira, 19 de maio de 2017
Teologia de um ateu
Se
Deus é onisciente e onipresente ele é o Todo.
Se
ele é o todo tem de ser também o Nada.
O
nada que une todos os seres vivos é a morte.
Então
se Deus tivesse que ter um nome seria Morte.
Mas
ninguém deseja a morte.
Por
isso prefiro o Deus inexistente, sem nome, endereço ou religião.
No
seu silêncio prolifera profana vida.
Na
sua ausência é que posso Ser... (Deus!)
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