domingo, 26 de janeiro de 2020

Visões de um certo Norte

Floresta-Rio não tem como começar sem essas palavras cheias de memória. O eldorado, submerso mistério. Lendas não mentem são anteriores a razão. Floresta e Rio que vieram antes de tudo e apesar de tudo ficaram depois. Pois para elas o tempo do Tempo gira sem se mover. Árvores anciãs com longas barbas e troncos de pedra subindo aos céus. O Rio Negro escuro como o fim do um do mundo. Os prédios altos e os casarões antigos cravados no centro contam contos de glorias e misérias, coisas de gente. Grita a cidade selvagem prestes a explodir em seu próprio caos! Grita em consonância com o grito da mata, pois o mesmo fogo que devasta uma arde nas entranhas da outra. Falhou a civilização imposta pelos de lá. As ruínas do futuro assombradas pelos fantasmas da colônia.  O povo de sangue de terra vive em toda parte e ainda assim é invisível. E apesar dos pesares canta e dança nas guerras dos séculos, nas guerras do dia a dia. A chuva vem, ela sempre vem, e lava tudo e leva todos. Nada escapa a chuva, nada escapa a floresta e ao rio, nada escapa a história viva... Arrebata o peito e encanta os olhos esses labirintos amazônicos feitos de preto opaco e verde translúcido. Da copa mais alta as raízes do Brasil correm veneno e mel sobre o banzeiro do Tempo.