Floresta-Rio não tem
como começar sem essas palavras cheias de memória. O eldorado, submerso
mistério. Lendas não mentem são anteriores a razão. Floresta e Rio que
vieram antes de tudo e apesar de tudo ficaram depois. Pois para elas o tempo do
Tempo gira sem se mover. Árvores anciãs com longas barbas e troncos de pedra subindo aos céus. O Rio Negro escuro como o fim do um do mundo. Os prédios
altos e os casarões antigos cravados no centro contam contos de glorias e
misérias, coisas de gente. Grita a cidade selvagem prestes a explodir em seu
próprio caos! Grita em consonância com o grito da mata, pois o mesmo fogo que
devasta uma arde nas entranhas da outra. Falhou a civilização imposta pelos de
lá. As ruínas do futuro assombradas pelos fantasmas da colônia. O povo de sangue de terra vive em toda parte
e ainda assim é invisível. E apesar dos pesares canta e dança nas guerras dos
séculos, nas guerras do dia a dia. A chuva vem, ela sempre vem, e lava tudo e
leva todos. Nada escapa a chuva, nada escapa a floresta e ao rio, nada escapa a
história viva... Arrebata o peito e encanta os olhos esses labirintos
amazônicos feitos de preto opaco e verde translúcido. Da copa mais alta as
raízes do Brasil correm veneno e mel sobre o banzeiro do Tempo.