Em um futuro não muito
distante penso em uma passado muito presente: Os seres humanos se tornam cada
vez mais frágeis em seus antiquados corpos de carne, osso e dor, e cada vez
mais assustados com suas gigantescas cidades de asfalto, metal e fúria. A
velocidade das vias expressas oprime o pensamento, não há mais tempo para
elucubrar, não há mais tempo para gozar se não com hora marcada. Quem abusar ou
se desviar é vigiado e punido. Os corpos tem código de barra, controle remoto e
entrada USB. As identidades são invenções do Instagram, ninguém mais pode ser
infeliz agora, se não foi postado não aconteceu. As telas exigem nossa atenção
e devoram nosso consciência do agora, as luzes cegam, as projeções confundem,
os comprimidos de soma anestesiam sem necessariamente aplacar a dor das almas
em ameaça de extinção. As máquinas gritam e as fábricas produzem
incessantemente para um futuro de fartura e calmaria que nunca chega. O
trabalho nos rouba e o Tempo agora tem um soberano, um Big Brother de visão panóptica, eleito por
uma maioria muda que forma filas e aguarda o abismo enquanto devora os detritos
e escombros de um passado sem data, deixado por ancestrais cínicos e niilistas,
que maquinaram maquiavélicos o suicídio coletivo do planeta. Vestimos armaduras
automobilísticas e aceleramos queimando petróleo para não sermos alcançados, erguemos monumentos falocêntricos para
celebrar nossa impotência auto imposta e rezamos para que o deus Google diga
nosso destino. Embaralhamos nossas memórias para esquecer e fingir
neutralidade. Nos conectamos ao Todo para que esse seja Nada. Não existe mais o
fora da Matrix. Reproduzimos o mesmo para que a diferença seja apenas um
slogan. O vingador do futuro foi enforcado em uma fábrica no
berço do capitalismo em meio a discursos de progresso infinito. Ele voltou e foi crucificado. Voltou de novo e foi
baleado. Agora vive como indigente em uma região desolada pelo estouro de uma
barragem. E assim aguardamos sentados no sofá o apocalipse e as vezes
trocamos de canal para não nos entediamos com um fim tão óbvio. Enquanto isso
as baratas observam o desfecho do Antropoceno ansiosas por sua era de ouro na Terra.
terça-feira, 16 de julho de 2019
terça-feira, 9 de julho de 2019
O Tinder ou a busca pelo amor
Humano
comum com tristezas comuns, pequenas conquistas, grandes frustrações, um fardo
e um desejo secreto. Em busca de uma pessoa nada especial, com nome, com fome e
carregando algum tipo de solidão. Vamos dividir uma cerveja em um confessionário entre santos e bêbados e partilhar a história de nossos erros. Contar nossas
tragédias burlescas e fingir que somos personagens de uma série ruim da Netflix
que não se pode parar de ver porque atrai a consciência, dissipa o tempo,
acalma as horas e distrai o tédio dando sugestões ao desejo. Sim isso é um poema de amor! Ou será desamor?!
quinta-feira, 18 de abril de 2019
Absurdo 02
Acreditar? Eu não! A fé é artigo
publicitário e a verdade inútil para quem não pode carrega-la na bolsa.
Prefiro encarar o olhar sem rumo da Loucura, poço sem fundo, coragem sem esperança. E fazer escolhas como quem vê figuras nas nuvens e interpreta o
futuro nas vísceras de um animal morto. Mas afinal porque não? Quem sabe inventar
uma mentira e mentir mil vezes, em mil páginas, por mil anos até esquecer que é
mentira e virar poeta. Não há nada a perder para quem a vida foi entregue sem
perguntas nem respostas. O erro é irrelevante pois a realidade é inapreensível.
Vale a pena tentar pois a morte tem hora marcada e não atrasa a eternidade. A palavra
já é uma vitória humana! O grito uma conquista! Se a experiência o tempo não comporta, uma
migalha pode fartar uma existência inteira.
terça-feira, 9 de abril de 2019
Poema Brasileiro
Domingo ensolarado. Cidade
maravilhosa. País tropical. Por traz da miragem do corcovado, oitenta tiros,
oitenta tiros foram disparados! Nesse Brasil outro, o horror governa
disfarçado, fardado de ordem e progresso, fuzil nas mãos, assassinato. Oitenta
tiros, oitenta tiros foram disparados! País latifúndio onde a lei é sangue e a
lógica é clara, muito clara e apesar do passado ser negro e o presente ser
negro, o futuro está ameaçado. Oitenta tiros, oitenta tiros foram disparados!
Tá lá um corpo no chão. Era bandido? Era vilão? Foi confundido? Execução! O
preço do sentimento de segurança é mais caro para alguns. Há os que votaram e
os que foram votados, e tem aqueles que com um alvo são marcados cotidianamente
e levam na pele o estigma dos escravizados. Oitenta tiros, oitenta tiros foram
disparados! Quem no plenário e na tribuna denuncia o crime institucionalizado não vive para ver o resultado. A pergunta icônica ``quem matou Marielle`` já serve para tantos...Oitenta tiros, oitenta tiros foram disparados! Para um povo que insiste em apagar sua história genocídio é naturalizado. Aqui bala tem consciência e sabe quem deve ser eliminado, mas quem
atira não, esse deve só estar engando. O guarda chuva parecia uma arma...tinha
cara de suspeito... Coincidência? Despreparo? Ou terrorismo de Estado? Oitenta
tiros, oitenta tiros foram disparados! Nesse gatilho que foi puxado, presidente
e congresso, sociedade e soldados, todos são um tanto culpados. Uma família destruída,
mas não a da propaganda de margarina. Oitenta tiros, oitenta tiros foram
disparados! O presente repete o pior do passado, na Colônia, no Império,
na República dos bestializados. Cidadania? direitos? Oitenta tiros, oitenta tiros
foram disparados! Cidadania e direito em um carro fuzilados. Oitenta tiros,
oitenta tiros foram disparados.
Assinar:
Postagens (Atom)