sábado, 10 de julho de 2021

A cidade

Recito meus pensamentos em uma língua morta e sigo repetindo como um mantra pelas ruas adentro, como uma música interior a ressoar silenciosa pela solidão monumental da cidade branca, de horizonte infinito e o céu boquiaberto sobre nós. Avanço descompassado cortando o espaço geometrizado. Em um movimento interno, em um piscar de olhos, cruzo por entre blocos de concreto armado e vidro, atravessando as cortinas verdes dos jardins suspensos em decadência. Vejo passar por mim sombras, projeções cinematográficas do que sei, que revelam em suas imagens turvas o que não sei, e talvez, não se possa saber, se não por um único instante antes do esquecimento. História sem fim, narração sem sujeito. Caminho em suspenso, desvio de mim, já não consigo me alcançar. E subo, pairando, distante, distante... de onde tudo parece pequeno, delicado como uma maquete de brinquedo, um mundo de formigas, tudo prestes a desaparecer. Nuvens, sonhos, eixos em um papel...

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